Europa adota postura mais dura em relação à China em alinhamento com os EUA

Nos últimos meses, a Europa vem mudando sua abordagem em relação à China, adotando uma postura mais dura e crítica diante do gigante asiático. Essa mudança reflete uma maior convergência com a estratégia dos Estados Unidos, que considera a China como seu principal rival geopolítico e econômico.
Mas quais são os motivos e as consequências dessa nova postura europeia? E como a China está reagindo a esse cenário?
Os motivos da mudança
Um dos principais fatores que influenciaram a mudança de postura da Europa em relação à China foi o aumento das tensões entre Pequim e Washington nos últimos anos. Sob o governo de Donald Trump, os EUA iniciaram uma guerra comercial e tecnológica contra a China, acusando-a de práticas desleais e de ameaçar a segurança nacional americana.
Além disso, os EUA criticaram duramente a China por sua repressão interna aos protestos em Hong Kong e à minoria muçulmana uigur em Xinjiang, bem como por sua expansão militar no Mar do Sul da China e por sua responsabilidade na pandemia de covid-19.
Essas questões colocaram os países europeus em uma posição delicada, pois eles dependem da China como um importante parceiro comercial e investidor, mas também compartilham dos valores democráticos e dos interesses estratégicos dos EUA.
Diante desse dilema, a Europa optou por se alinhar mais aos EUA, especialmente após a eleição de Joe Biden, que prometeu restaurar as alianças transatlânticas e adotar uma abordagem multilateral para lidar com a China.
Outro fator que contribuiu para a mudança de postura da Europa foi o próprio comportamento da China, que se tornou mais assertiva e agressiva no cenário internacional. A China intensificou seus laços com a Rússia, seu aliado estratégico contra o Ocidente, e aumentou sua influência em regiões como a África, a Ásia e a América Latina, através de projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota.
Além disso, a China usou sua diplomacia do “lobo guerreiro” para intimidar e retaliar países que criticassem suas políticas internas ou externas. Por exemplo, a China impôs sanções econômicas à Austrália por pedir uma investigação independente sobre a origem do coronavírus, e à União Europeia por sancionar autoridades chinesas envolvidas em violações dos direitos humanos.
Essas atitudes despertaram preocupações na Europa sobre os riscos de uma dependência excessiva da China e sobre a necessidade de proteger seus próprios interesses e valores.
As consequências da mudança
A mudança de postura da Europa em relação à China teve diversas consequências nas relações bilaterais e no equilíbrio de poder global.
Uma das consequências foi o aumento das restrições às exportações e investimentos chineses na Europa, especialmente nos setores considerados estratégicos ou sensíveis, como telecomunicações, energia e infraestrutura. A Europa também passou a exigir mais reciprocidade da China no acesso ao seu mercado e na proteção da propriedade intelectual.
Outra consequência foi o congelamento do acordo de investimentos entre a União Europeia e a China, que havia sido assinado em dezembro de 2020 após sete anos de negociações. O acordo visava facilitar o fluxo de capitais entre os dois blocos, mas enfrentou resistência do Parlamento Europeu e dos EUA, que questionaram seus benefícios econômicos e seus impactos políticos.
Uma terceira consequência foi o fortalecimento da cooperação entre a Europa e os EUA para enfrentar os desafios impostos pela China. Em março de 2021, os líderes dos dois lados realizaram uma cúpula virtual para discutir uma agenda comum em temas como comércio, tecnologia, clima e direitos humanos. Em junho de 2021, a União Europeia e os EUA anunciaram a criação de um Conselho de Comércio e Tecnologia, para coordenar suas políticas e normas nesses setores.
A reação da China
A China reagiu à mudança de postura da Europa com uma mistura de indignação e pragmatismo. Por um lado, a China acusou a Europa de interferir em seus assuntos internos e de seguir a agenda dos EUA. Por outro lado, a China tentou manter canais de diálogo e cooperação com a Europa, especialmente em áreas de interesse mútuo, como a recuperação econômica e a mudança climática.
A China também buscou diversificar seus parceiros comerciais e diplomáticos, ampliando seus laços com países em desenvolvimento, como os do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e assinando acordos regionais, como a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), que envolve 15 países da Ásia-Pacífico.
O futuro das relações
O futuro das relações entre a Europa e a China dependerá de vários fatores, como o desenvolvimento da pandemia, a evolução da política interna de cada lado, a dinâmica da rivalidade entre os EUA e a China e a capacidade de encontrar áreas de cooperação e de gerenciar as diferenças.
Apesar das tensões atuais, é improvável que a Europa rompa completamente seus laços com a China, pois reconhece sua importância econômica e estratégica. No entanto, é possível que a Europa adote uma postura mais cautelosa e crítica em relação à China, buscando equilibrar seus interesses comerciais com seus valores democráticos e sua aliança com os EUA.
Nesse sentido, a Europa pode se tornar um ator mais relevante e influente no cenário internacional, defendendo uma ordem global baseada em regras e no multilateralismo.
Fontes
- Visita de ministra alemã oferece vislumbre da tendência política da Europa em relação à China, diz principal jornal chinês – Brasil 247
- Tensões com China – mas também negócios – aumentam em dois anos de Bolsonaro – BBC News Brasil
- Ursula von der Leyen pede uma política mais dura em relação à China – Jornal Econômico
- O que China tem a perder ao apoiar Rússia? – BBC News Brasil