Risco de pandemia global aumenta após invasão de laboratório com vírus no Sudão

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que há uma situação “extremamente grave” e “enorme risco biológico” depois que um laboratório contendo amostras de vírus caiu no controle de combatentes do Sudão.
O laboratório, localizado na capital Cartum, fazia parte de um programa de vigilância epidemiológica e armazenava amostras de vírus como ebola, marburg, coronavírus e influenza. Segundo a OMS, o laboratório foi invadido e saqueado por membros das Forças de Apoio Rápido (FAR), uma milícia paramilitar que está em confronto com as Forças Armadas do Sudão desde o último sábado (16/04).
A OMS afirmou que está trabalhando com as autoridades sudanesas e parceiros internacionais para tentar recuperar as amostras e garantir a segurança do laboratório e dos profissionais de saúde envolvidos. A organização também pediu aos combatentes que respeitem as normas humanitárias internacionais e não usem as amostras para fins maliciosos.
“Estamos muito preocupados com o potencial de propagação de doenças infecciosas e o impacto na saúde pública no Sudão e na região”, disse o diretor regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti, em um comunicado. “Pedimos a todos os envolvidos no conflito que cessem imediatamente as hostilidades e permitam o acesso humanitário sem restrições.”
Uma possível catástrofe mundial?
A invasão do laboratório com vírus no Sudão pode ter consequências catastróficas para a saúde global, caso as amostras sejam usadas para fins bélicos ou sejam liberadas acidentalmente no meio ambiente.
Os vírus armazenados no laboratório são altamente contagiosos e podem causar doenças graves ou fatais em humanos e animais. Alguns deles, como o ebola e o marburg, são classificados como agentes biológicos de categoria A pela OMS, ou seja, representam o maior risco possível para a segurança nacional e a saúde pública.
O uso desses vírus como armas biológicas pode provocar surtos epidêmicos ou pandêmicos, afetando milhões de pessoas em diferentes países. Além disso, a liberação desses vírus no meio ambiente pode gerar mutações genéticas ou recombinações com outros micro-organismos, criando novas formas de patógenos mais virulentos ou resistentes aos tratamentos existentes.
Para evitar esse cenário apocalíptico, é fundamental que as autoridades sudanesas e internacionais consigam recuperar as amostras e garantir a segurança do laboratório. Também é preciso fortalecer os mecanismos de prevenção e resposta a emergências de saúde pública de origem natural ou intencional.
Entenda o conflito que eclodiu no Sudão
O Sudão vive uma crise política e humanitária desde outubro de 2021, quando o general Abdel Fatah al-Burhan, líder do Conselho Militar de Transição, deu um golpe de Estado e derrubou o primeiro-ministro civil Abdalla Hamdok, pondo fim ao processo de transição democrática iniciado em 2019 após a queda do ditador Omar al-Bashir.
O golpe provocou uma onda de protestos pacíficos da população, que exigia a restauração do governo civil e a realização de eleições livres. No entanto, as manifestações foram reprimidas violentamente pelas forças de segurança, resultando em centenas de mortos e feridos.
Em dezembro de 2022, Burhan e Hamdok anunciaram um acordo para formar um governo de transição civil, mas
o pacto foi rejeitado por grande parte da sociedade civil e dos partidos políticos, que o consideraram uma farsa para legitimar o poder militar.
Em abril de 2023, os confrontos se intensificaram entre as Forças Armadas do Sudão, leais a Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (FAR), comandadas pelo vice-presidente do Conselho Soberano, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti. As FAR são uma milícia formada por ex-integrantes da Yanyawid, grupo acusado de cometer atrocidades durante o conflito de Darfur (2003-2008).
Os dois líderes militares são rivais desde a queda de Bashir e disputam o controle do país. Segundo analistas, o conflito reflete as divergências entre os aliados regionais do Sudão: Burhan é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos e pela Arábia Saudita, enquanto Hemedti tem o respaldo do Catar e da Turquia.
A violência se espalhou por várias regiões do país africano, causando mortes, deslocamentos e danos à infraestrutura. A ONU estima que mais de 3 milhões de pessoas precisem de assistência humanitária urgente no Sudão.