Notícias

Lula provoca indignação ao comparar ações de Israel ao Holocausto

O presidente Lula compara as ações de Israel em Gaza ao Holocausto, provocando indignação de Israel e da comunidade judaica. Saiba por que essa comparação é imprecisa, ofensiva e prejudicial.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, provocou uma disputa diplomática com Israel ao comparar sua campanha militar em Gaza ao Holocausto, o genocídio de seis milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Lula fez as declarações polêmicas no domingo, 18 de fevereiro de 2024, na cúpula da União Africana na Etiópia, onde acusou Israel de cometer genocídio contra o povo palestino em Gaza.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não tem paralelo em outros momentos históricos. Na verdade, ela existia quando Hitler decidiu matar os judeus”, disse Lula. “Não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.”

As declarações de Lula geraram forte repreensão de Israel, que convocou o embaixador brasileiro para uma reunião na segunda-feira e disse que Lula não era bem-vindo em Israel até que ele se retratasse. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a comparação de Lula estava “cruzando uma linha vermelha” e equivalia à “banalização do Holocausto e uma tentativa de prejudicar o povo judeu e o direito de Israel de se defender”.

Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre maciça em Gaza em 7 de outubro de 2023, depois que o Hamas, grupo militante islâmico que controla o enclave costeiro, disparou centenas de foguetes contra cidades e vilas israelenses, matando pelo menos 12 pessoas e ferindo outras centenas. Israel disse que sua operação, batizada de “Operação Borda Protetora”, tinha como objetivo destruir a infraestrutura militar do Hamas e restaurar a segurança de seus cidadãos. No entanto, a operação também causou devastação generalizada e vítimas civis em Gaza, onde mais de 28.800 pessoas morreram e mais de 100.000 ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. As Nações Unidas estimam que mais de 75% das vítimas são civis e que mais de 1,5 milhão de pessoas foram deslocadas pelos combates.

Lula não é o único líder que criticou as ações de Israel em Gaza. Vários países, especialmente do Sul Global, expressaram solidariedade à causa palestina e condenaram o uso desproporcional da força por Israel. Alguns, como a África do Sul, chegaram a acusar Israel de cometer genocídio e apresentaram um processo contra ele na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A CIJ decidiu em janeiro que o caso da África do Sul poderia prosseguir e instruiu Israel a prevenir e punir atos de genocídio, prevenir incitação ao genocídio e permitir assistência humanitária ao povo de Gaza. No entanto, o tribunal não ordenou que Israel interrompesse suas operações militares em Gaza.

A comparação de Lula das ações de Israel com o Holocausto, no entanto, é vista como particularmente ofensiva e insensível por muitos, especialmente pela comunidade judaica. O Holocausto é amplamente considerado como o assassinato em massa mais horrível e sistemático da história da humanidade, e sua memória é sagrada para o povo judeu. Comparar Israel, o Estado que foi estabelecido como pátria para o povo judeu após o Holocausto, com a Alemanha nazista, o regime que buscou exterminá-lo, é considerado por muitos como uma forma de antissemitismo e uma negação do direito do povo judeu de existir.

A Confederação Israelita Brasileira, principal organização judaica no Brasil, disse que as declarações de Lula são uma “distorção perversa da realidade” que “ofende a memória das vítimas do Holocausto e seus descendentes”. A confederação também disse que a comparação de Lula é “incompatível com o espírito democrático e pluralista que caracteriza a sociedade brasileira”.

Lula, que é um veterano político de esquerda e ex-líder sindical, tem um histórico de ser crítico de Israel e apoiador da causa palestina. Ele foi um dos primeiros líderes a reconhecer a Palestina como Estado, em 2010, e pediu repetidamente uma solução pacífica e negociada para o conflito israelense-palestino. Ele também tem sido vocal na denúncia da interferência dos EUA e do Ocidente nos assuntos do Sul Global, e tem defendido uma ordem mundial mais multipolar e equitativa.

A comparação de Lula das ações de Israel com o Holocausto, no entanto, pode ter ido longe demais e prejudicado sua reputação como líder global e defensor dos direitos humanos. Embora ele possa ter tido a intenção de chamar a atenção para a situação do povo palestino em Gaza, ele também pode ter alienado e insultado muitos de seus aliados e apoiadores, especialmente na comunidade judaica e em Israel. Lula pode ter que reconsiderar suas palavras e pedir desculpas se quiser restaurar sua credibilidade e manter sua influência no cenário internacional. A comparação de Lula das ações de Israel com o Holocausto não é apenas um erro diplomático, mas também uma falácia histórica. Embora tanto o Holocausto quanto o conflito em Gaza sejam eventos trágicos e complexos, eles não são comparáveis em termos de escala, intenção e contexto. O Holocausto foi uma tentativa sistemática e deliberada de acabar com todo um grupo étnico, religioso e cultural, baseado em uma ideologia racista e supremacista. O conflito de Gaza, por outro lado, é uma disputa política e territorial entre dois movimentos nacionais, ambos com reivindicações e queixas legítimas, mas também recorrendo à violência e às violações dos direitos humanos. Embora as ações de Israel em Gaza possam ser criticadas como desproporcionais, indiscriminadas e ilegais, elas não são motivadas por uma intenção genocida, mas por uma lógica de segurança. Além disso, o conflito de Gaza não é um caso unilateral, mas um ciclo recíproco de violência, no qual ambos os lados têm responsabilidade e responsabilização. Equiparar os dois acontecimentos é ignorar os factos históricos e as realidades políticas e insultar a memória e a dignidade das vítimas de ambos os lados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

quatro + doze =